domingo, 30 de setembro de 2012

random


Enrolou-se na manta, encostou-se para trás no sofá e fechou os olhos. Sentia que, se ficasse assim, perderia a noção do tempo e do espaço. E era só disso que precisava. O barulho dos carros desaparecera. Era como se fosse só ela, perdida nos seus pensamentos. Aos poucos, foi sentindo que já nem isso lhe pertencia. Os seus pensamentos deram lugar a um não pensar constante, nada lhe atormentava a alma. De repente, assomou-lhe à ideia que gostava desse estado de letargia. Era agradável. Parecia que nada no mundo a poderia afectar, nem mesmo o seu mundo da treta onde estava tão vincada, de onde não conseguia sair. Constatou então que o facto de se aperceber disso mesmo significava que voltara a pensar. Já não estava naquele estado bom. A fuga tinha sido curta e já havia terminado. Cerrou os olhos com mais força, para tentar voltar ao estado bom de não ser mais do que nada. A verdade é que queria ser mais forte do que as lágrimas que teimavam em espreitar. Lembrou-se que estava semi nua. Aquele mau estar tinha-a apanhado enquanto vestia o pijama e esquecera durante algum tempo o que se estava a preparar para fazer. Dormir. Apercebeu-se então que tinha sido o medo a fazê-la esquecer. Medo de dormir. Medo dos pesadelos que a mente insistia em mostrar-lhe. Dirigiu-se para o quarto com o pensamento de que, se adormecesse sem pensar em nada, o sono lhe podia trazer o descanso que já não tinha há semanas. O descanso merecido.